Etewaldo Santiago

Existem, na memória icnográfica do natalese ao menos duas estátuas que são emblemáticas da cidade.  A Iemanjá da praia do meio e o casal de namorados se beijando na entrada do parque das dunas (antigo bosque dos namorados) no Tirol.

Dificilmente você pode imaginar que alguém seja de Natal, ou tenha morado nessa cidade e que não se lembre dessas imagens quando pensa na cidade. O que nem todo mundo sabe é que essas imagens foram construídas por Etewaldo Santiago, um dos mais importantes escultores potiguares.

A equipe do portal de cultura potiguar viajou a Ceará Mirim  e na companhia do pesquisador Gibson Machado filmou diversas peças de Mestre Etewaldo (já falecido) que se espalham pela cidade, bem como registrou uma entrevista com seu filho Edwaldo, que continua o trabalho do pai.

Etewaldo Cruz Santiago, nasceu em 1939 em Assu e chegou a Ceará Mirim em 1968.  Começou seu trabalho moldando em pedaços de madeira os seus próprios brinquedos numa tentativa de suprir as carências de uma infância humilde. Essa brincadeira virou técnica e o fez experimentar outros materiais para materializar seus sentimentos advindos do seu cotidiano de homem simples.


(ETWALDO SANTIAGO: O ARTISTA DO POVO DE CEARÁ MIRIM)

Mestre Etewaldo se fez eternizar através das suas inúmeras criações que se espalham pelos verdes canaviais de Ceará mirim, cidade adotada por ele para constituir família; Em Natal; No museu da cultura em Brasília: Na casa Branca, nos Estados Unidos e além do oceano Atlântico em Terras Papais, O Vaticano.

Das suas mãos também tomaram formas, a partir da modelagem do barro, os tipos humanos da cultura nordestina, tais como: O vaqueiro; A rendeira; Os cantadores de viola; As lavadeiras; As famílias “Severina” de crianças de ventre crescido e raquíticas, dentre outras. Todas com expressões carregadas de sofrimentos percebidas pelo autor.

Uma curiosidade é que o uso do barro, identificador da sua produção, é posterior à madeira (matéria-prima das primeiras esculturas e que ele usou ao longo da sua vida).

Dentre as obras de maior destaque que ainda se encontram em nosso Estado se encontra o painel na Praça Edgar Varela, que retrata o trabalho árduo nas plantações da cana de açúcar fazendo eternizar-se a tecnologia da época – as carroças puxadas à boi; O cortador de cana, na entrada da cidade de Ceará mirim e o busto de Frei Damião, no Largo da Matriz desta mesma cidade.

Um ponto de grande tristeza para a equipe do portal foi constatar o estado de descaso e degradação com que se encontra esta obra, em uma das praças mais importantes da cidade de Ceará Mirim. Um crime contra a memória e a arte potiguar.


(OBRAS DE ETEWALDO EM CEARÁ MIRIM)

A figura da rendeira, peça premiada no Canadá, numa exposição de arte popular, é umas das suas peças mais representativas, nasceu da memória de sua avó, que faziam renda de Bilro. O aspecto físico, o jeito de amarrar o cabelo, os óculos e o cachimbo no canto da boca (menino, Etewaldo buscava tição para acendê-lo), tudo era meio para reproduzir a imagem da avó materna.

A arte desse mestre da cultura popular ver-se frutificada hoje, mesmo após sua morte em 2005. Assim como a planta que deixa cair suas sementes, Etewaldo conseguiu fazer-se germinar sua arte em dois dos seus oito filhos que dão continuidade ao trabalho iniciado pelo pai.

As imagens sacras, as rendeiras, o cortador de cana, o pescador, o agricultor, o lenhador, o cangaceiro as figuras nordestinas continuaram por muito tempo a serem esculpidas no mesmo local, por seus filhos Edivaldo da Silva Santiago e Edwonaldo da Silva Santiago, sendo que este último reproduz as figuras do pai e tem um estilo muito próximo ao do mestre ceramista, trazendo à tona a memória de Etewaldo, pela semelhança da sua obra com a do seu pai. Naldo, como é conhecido na cidade, tem sua oficina montada em sua própria casa, também em Ceará Mirim. Edivaldo, por sua vez, se utiliza das técnicas aprendidas com o pai, no entanto, se utiliza de outra temática. Especializou-se em criar soldados, guerreiros e outros elementos dentro deste tema, que assume ter verdadeira paixão pelo que faz. A família Santiago, nas figuras de Naldo e Edivaldo veem tentando conservar assim a história, ainda que inovada a cada geração.


(EM NOME DO PAI)