Casarão de Poesia
Uma casa antiga, abandonada em meio a um cenário sertanejo. Um grupo de jovens universitários que se reuniam para celebrar a amizade e um amor comum pela literatura. Uma proposta de poesia que se lança, das fronteiras do Seridó oriental, para o mundo.
(CASARÃO: Uma proposta de poesia)
Esse é o caldo de cultura que fez nascer entre 2005 e 2006 o grupo Casarão de Poesia na Cidade de Currais Novos.
Entrevistamos Wesckley J. Gama e Luma Carvalho na nova sede do grupo. Longe do antigo casarão, que ficava ao lado da UFRN de Currais Novos, a nova sede se tornou um ponto de leitura, onde, além das performances poéticas e das oficinas da Orquestra de Violões do Seridó Oriental, a comunidade de Currais Novos tem acesso a um vasto acervo de livros, com estantes cheias de Graciliano Ramos, de Jorge Amado, Franz Kafka, Dostoievisky, Henry Miller e com um destaque especial para escritores potiguares.
(Poesia e Atuação Comunitária)
E foi a partir da ideia de uma performance poética que o grupo Casarão se formou.
Na virada de 2005 para 2006 o grupo apresentou “A poesia quando chega não respeita nada”. Foi o mote para que tarefa fundamental da poesia pudesse frutificar na voz de Luma Carvalho, Wesckley J. Gama (CITAR OUTROS NOMES).
E é essa oralidade, essa musicalidade que, ligada à tradição da poesia de verso livre brasileira, une Manoel de Barros e Drummond à Antônio Francisco e Manoel Xudu. Entre as fronteiras de uma linguagem da tradição e da influência do cânone da literatura ocidental, os poetas do Casarão de Poesia, são universais, sem deixar de pensar na própria aldeia.
(Literatura Potiguar e as Fronteiras do Mundo)
E essa aldeia é o Seridó potiguar. O Seridó de José Bezerra Gomes, Luis Carlos Guimarães, de Oswaldo Lamartine de Faria, de Moacy Cirne, Nei Leandro de Castro. O Seridó Oriental. O Sertão de Currais Novos, um mundo de aboios perdidos na memoria dos tempos, do cheiro do café na cozinha, do sotaque cantado, do namoro embaixo das luzes dos postes e da Lua que é farol na noite dos sertões. O sertão da aristocracia rural do couro e do algodão, da introspecção do marranismo sertanejo, que se esconde atrás da muralha de serras.
Entre as construções acadêmicas, que surgem da leitura dos poetas ditos eruditos, e a espontaneidade emocional da poesia popular que surge do coração e da intuição poética profunda que tem cheiro de terra e de couro, o trabalho poético do Casarão de Poesia aparece num lugar de fronteira.
(Poesia na Galáxia Seridó)
Uma confluência que une, em um “regionalismo existencialista” (que é como Wesckley descreve seu trabalho original), a parede do açude Gargalheiras às montanhas cobertas de florestas da Colômbia, costurados na pulsação das ideias poéticas de uma geração de sertanejos que não tem medo do mundo, mas que, mesmo assim, não sentem mais a força expulsiva que levava seus antepassados a viajar para o sul em busca de sobrevivência poética.
(Quando a Noite Cai)
Ligados na internet, usando as ferramentas da rede (Blogs, Youtube, Twitter) os poetas contemporâneos do Sertão não precisam mais abandonar seu lugar para se projetar no mundo. O mundo está paradoxalmente menor e mais amplo, estreitando as relações, permitindo que as esquinas da vida interior ultrapassem seus próprios limites.
Quer seja (Como diz o poeta) através de um “não que atravessa oceanos em bites”; ou como “um sim, que atravessa arquipélagos humanos”.
Para morar no coração e na memória dos homens, a poesia do Casarão está a disposição das redes de comunicação botando abaixo a muralha das serras que esconderam o Seridó do mundo por tantos séculos.
Assim o Casarão de Poesia enfrenta as demandas do nosso tempo, sendo universais, sem saírem da aldeia.
(Luma Carvalho)