Período de Transição


Neste segundo momento, na etapa de TRANSIÇÃO, a Literatura do Rio Grande do Norte deixa de ser intuitiva para trabalhar a ideia de terra natal consolidada, com inquietações de ordem estética. Tanto há um cuidado em acompanhar a movimentação literária nacional quanto em resgatar e se inspirar no estilo dos escritores que antecederam no cânone literário. Esse período corresponde às três primeiras décadas de 1900, influenciado pelo romantismo tardio com ênfase na emoção, no sentimento nativista; pelo simbolismo; pelas propostas futuristas e das vanguardas europeias.

No referido período, foi criado o primeiro jornal feminino, Via-Láctea (1914-1915), sob a responsabilidade de Palmyra e Carolina Wanderley.

Adele de Oliveira

Etelvina Antunes é Etelvina Antunes de  Lemos, filha do Coronel José Antunes de Oliveira e de Joana Antunes de Oliveira. Nasceu em 17 de maio de 1885, no engenho Oitero em Céara-Mirim. Irmã de dois escritores representativos da literatura potiguar, Juvenal Antunes e Madalena Antunes. Colaborou, em Natal e Recife, com revistas e jornais. Em Ceará-Mirim, com o pseudônimo de Hortência Flores, colaborou com os jornais O sonho e A esperança. Aos 8 anos, tornou-se aluna interna do Colégio São José, em Recife, onde estudou por cinco anos, mesma escola em que sua irmã, Madalena Antunes, teve formação. Ao regressar para o Rio Grande do Norte, dominava a língua francesa.

Exímia sonetista, reuniu versos em um volume intitulado Violetas, em preparo desde 1897, com poemas majoritariamente escritos entre 1904 e 1950, que ficou inédito em virtude de o marido, o Promotor Público Vicente de Lemos Filho, não concordar com as atividades literárias de esposa. Mesmo depois do falecimento do marido, em 1958, Etelvina Antunes manteve o livro engavetado, falecendo no dia 06 de janeiro de 1963, em Natal, aos 78 anos de idade, sem publicá-lo. A primeira edição do seu livro só foi publicada em 2016 pelo Selo Cultural Azymuth, fruto do trabalho de Wandyr Villar, autor do prefácio e proprietário. Violetas esperou

Em Lira de Poti, o autor Antônio Soares dedicou o poema A PIANISTA a Etelvina Lemos. A poeta, por sua vez, retribuiu a gentileza, homenageando o amigo e concunhado com um poema intitulado VENTANIAS. Isso porque a poeta cearamirinense foi multi-instrumentista: tocava violino, bandolim, cavaquinho, violão e piano.

Em 2011, a escritora Lúcia Helena Pereira, sobrinha-neta da poeta, tomou a iniciativa de criar a Academia Cearamirinense de Letras e Artes, escolhendo o nome de Etelvina Antunes como Patronesse da Cadeira de número 17; o de Juvenal Antunes para a Cadeira 03; o de Madalena Antunes para a Cadeira 04.

PRODUÇÃO DE ETELVINA ANTUNES

ANTUNES, Etelvina. Violetas. Natal/RN: Selo Cultural Azymuth, 2016.

PALAVRAS DE ETELVINA ANTUNES

No oiteiro
(A casinha onde eu nasci)

Eu amo a solidão desta casinha branca.
Tão branca e tão alegre ao pé do coqueiral.
Onde as aves gentis em chilreada franca
Parecem celebrar eterno festival.

No rumor da cidade a alma se nos tranca
Aos sonhos do Porvir, às crenças do Ideal.
Dos outros o sofrer o pranto nos arranca,
Tememos o pungir de alguma dor igual.

No silêncio do campo a vida se desliza,
Ouvindo no arvoredo os pássaros cantando.
E a paz da natureza o pranto nos estanca.

Parece uma carícia o ciciar da brisa.
E assim alegremente a vida vai passando…
Na doce solidão desta casinha branca.

(1904)

PRODUÇÕES SOBRE ETELVINA ANTUNES

DUARTE, Constância Lima; MACÊDO, Diva Maria Cunha Pereira de. Escritoras do Rio Grande do Norte. Natal/RN: Jovens Escribas, 2013, p. 139-148.
SOARES, Antônio. Dicionário Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Vol. I. Natal/RN: Imprensa Oficial, 1930, p. 106-107. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/542869921/Dicionario-Historico-e-Geografico-Do-RN-Volume-I Acesso em: 02 de agosto de 2024.
WANDERLEY, Ezequiel. Poetas do Rio Grande do Norte. Recife/PE: Imprensa Industrial do Recife, 1922.

Maria Magdalena Antunes Pereira (1880–1959), mais conhecida como Madalena Antunes, nasceu em 25 de maio de 1880, no Engenho Oiteiro, em Ceará-Mirim uma cidade do interior do Rio Grande do Norte. Filha do coronel José Antunes de Oliveira e Joana Soares de Oliveira, pertenceu à aristocracia rural da região, marcada pela produção açucareira. Seu nome tornou-se emblemático na literatura potiguar, especialmente após a publicação de sua obra única: Oiteiro: Memórias de uma Sinhá-Moça (1958).

Desde jovem, a romancista demonstrou interesse pela escrita, colaborando com crônicas e poemas em jornais locais como A Esperança e O Sonho, utilizando os pseudônimos Corália Floresta e Hortência. Em 1891, aos 11 anos, foi enviada para o Colégio São José, em Recife, onde permaneceu até os 16 anos. Essa experiência foi retratada em seu romance, publicado em 1958, aos 78 anos, e considerado o primeiro livro de memórias escrito por uma mulher no Rio Grande do Norte .

Apesar de ter publicado apenas essa obra, a autora contribuiu significativamente para a literatura potiguar, escrevendo para a Revista Ninho das Letras e mantendo contato com intelectuais como Luís da Câmara Cascudo e Palmira Wanderley. Ela também organizava saraus e chás literários, promovendo a cultura local .

Madalena Antunes faleceu em 11 de junho de 1959, em Natal. Sua obra permanece um importante testemunho da nossa sociedade nordestina do final do século XIX e início do século XX, oferecendo uma perspectiva única sobre a vida no interior do Rio Grande do Norte, durante o período da monarquia. Seu livro é um marco na literatura brasileira, destacando-se como uma das primeiras obras memorialísticas femininas da região.

Em reconhecimento à sua contribuição cultural, a Escola Municipal Madalena Antunes e o Mulherio das Letras Madalena Antunes, em Ceará-Mirim, levam o seu nome, perpetuando seu legado literário e educacional.

PRODUÇÕES DE MADALENA ANTUNES

ANTUNES, Madalena. Oiteiro: Memórias de uma Sinhá Moça. (1958) 2. ed. Natal: A. S. Editores, 2003.

PALAVRAS DE MADALENA ANTUNES

“Recordas-me o Oiteiro e ele a minha infância, fonte perene na qual cada um procura, vez por outra, nos momentos de desânimo, aquela paz benfazeja que a criança desperdiça, o homem ambiciona e os velhos recordam. . .

Atraía-me o culto às flores. Adorando-as, sentia-me feliz. Ungia-me de vibrações estranhas, extasiando-me diante do belo. Era a promessa da puberdade intelectual e humana.”

(Trecho de Oiteiro: Memórias de uma Sinhá moça, de Madalena Antunes).

PRODUÇÕES SOBRE MADALENA ANTUNES

JORGE, Franklin. Oiteiro: um livro fundador. In: Revista Blecaute, Ano 4, Nº11. Campina Grande (PB): Maio de 2012, p. 17.
DUARTE, Constância Lima; CUNHA, Diva (Org). Madalena Antunes. In: Catálogo de Escritoras Brasileiras. DUARTE, Constância Lima; CUNHA, Diva (Org). Santa Catarina: UFSC, s/d.
NASCIMENTO, Gercleide Gomes da S. F. A construção autobiográfica e memorialística em Oiteiro: memórias de uma Sinhá-moça. Orientador: Marcelo da Silva Amorim. 2005. Dissertação de Mestrado. (Pós-Graduação em Estudos da Linguagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.
PEREIRA, Lúcia Helena. A Sinhá-moça do Oiteiro. Natal(RN): União Brasileira de Escritores – RN

Palmyra Wanderley é Palmyra Guimarães Wanderley, nascida em Natal, Rio Grande do Norte, no dia 6 de agosto de 1894. Filha de Celestino Carlos Wanderley e de Anna Guimarães Wanderley, era irmã do poeta Jaime dos Guimarães Wanderley, família que constitui uma vertente artístico-cultural de vasta tradição no Rio Grande do Norte. Estudou no Colégio da Imaculada Conceição, dirigido pelas Irmãs Dorotéias, cuja rigidez nas normas de conduta, mormente naquele período histórico extremamente moralista e castrador, impediram-na o acesso a algumas leituras consideradas impróprias na educação das moças. Contudo seu próprio espírito transcendeu o molde educacional engessado e dogmatizado pela educação religiosa.

Escreveu crônicas e versos para jornais de efêmera duração, colaborando com o jornal A República. Fundou a Revista Via-Láctea (1914), exclusivamente escrito por senhoritas. Publicou seu primeiro livro, Esmeraldas, em 1918, bem recebido pela crítica. Com Roseira Brava (1929), obteve Menção Honrosa da Academia Brasileira de Letras.

Além de poesias, Palmira escreveu peças para o teatro – A Festa das Cores e Sonho de Uma menina Sem Medo – e novelas radiofônicas, todas ainda não publicadas. A título de exemplo, há outras produções suas que continuam à espera de publicação: Neblina na vidraça, Espelho partido, Vidro de muitas cores, Álbum de família, Rosas Místicas. Também proferiu palestras – Discursos e Conferências e Sutilezas Femininas – e continuou sempre colaborando em jornais da cidade. Colaborou com vários jornais e revistas: A República; A Imprensa; União (Rio de Janeiro); Revista Femina e Revista Moderna (São Paulo); Paladino do Lar (Bahia); Estrella (Ceará), entre outras.

Foi uma das fundadoras da Academia Norte-rio-grandense de Letras (1936), ocupando a Cadeira n.º 20, que homenageia Auta de Souza. Expressava seu amor por Natal cantando, em versos policrômicos, suas praias, dunas, rio, bairros, ruas e tipos humanos. Faleceu em Natal, a 19 de novembro de 1978.

PRODUÇÃO DE PALMYRA WANDERLEY

WANDERLEY, Palmyra. Esmeraldas. Natal/RN: Tipografia Comercial, 1918.
WANDERLEY, Palmyra. Roseira Brava. (1929) Natal/RN: DEI RN, 2023.
WANDERLEY, Palmyra. Roseira Brava e outros versos. 2. ed. Natal/RN: Fundação José Augusto, 1965.

PALAVRAS DE PALMYRA WANDERLEY

Pitangueira

Termina agosto. A pitangueira flora,
A umbela verde cobre-se de alvura.
E, antes que de setembro finde a aurora,
Enrubesce a pitanga, está madura.

Da flor, o fruto é de esmeralda agora.
Num topázio depois se transfigura,
E, pouco a pouco, um sol de estio o cora,
Dando a cor dos rubis à carnadura.

A pele é fina. A carne veludosa,
Vermelha como sangue, perfumosa,
Como se humana a sua carne fosse.

Do fruto, às vezes roxo como o espargo,
A polpa tem um travo doce amargo,
O sabor da saudade amargo e doce

(In: Roseira Brava, 2023)

PRODUÇÃO SOBRE PALMYRA WANDERLEY

ARAÚJO, Humberto Hermenegildo; PALHANO, João Maria de Paiva. Palmyra Wanderley: entre trinta botões de uma roseira brava. Natal/RN: EDUFRN, 2017.

CARVALHO, Isabel Cristine Machado de. Palmyra Wanderley e a educação da mulher no cenário Norte-rio-grandense (1914 -1920). 2005. 156 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. Disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/14259?mode=full.> Acesso em: 15 nov. 2024.

CHAVES, Maria Joseane. Palmyra Wanderley na revista Via-Láctea de 1914-1915: escrita e poesia na educação da mulher potiguar. In: MACHADO, Maria Izabel. (Org) A sociologia e as questões interpostas ao desenvolvimento humano. Vol. 2. Paraná: Editora Atena, 2019. Disponível em: <https://atenaeditora.com.br/catalogo/post/palmyra-wanderley-na-revista-via-lactea-de-1914-1915-escrita-e-poesia-na-educacao-da-mulher-potiguar.> Acesso em: 15 nov. 2024.

DUARTE, Constância Lima; CUNHA, Diva. (Org.) Via-Láctea: De Palmyra e Carolina Wanderley. Natal, 1914 – 1915. Natal/RN: Editora Sebo Vermelho, 2003.

EUSTÁQUIO, Daniella Lago Alves Batista de Oliveira. Palmyra Wanderley, a Cigarra dos Trópicos: imaginários culturais e mapa onírico em “Roseira Brava” (1965). 2015. 182f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015. Disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/20454.> Acesso em: 15 nov. 2024.

SILVEIRA, Marília Gonçalves Borges. A cidade Natal entre os espinhos de uma roseira brava. Imburana: Revista do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses, [S. l.], v. 6, n. 12, p. 24–44, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/imburana/article/view/10039. Acesso em: 15 nov. 2024.